O valor económico total resultante do uso directo e indirecto do mangal do Delta do Zambeze foi estimado em 1.026.582.480 USD por ano, segundo os resultados de um breve levantamento ecológico-económico com vista à avaliação do valor económico dos serviços ecossistémicos dos mangais, efectuado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e a Universidade Eduardo Mondlane através da Escola Superior de Ciências Marinhas e Costeiras de Quelimane.
Os resultados deste estudo, a ser lançado amanhã, 13/06, na Cidade de Quelimane, Província da Zambézia, indicaram que o uso directo do mangal em estacas, madeira, lenha e produção de carvão vegetal foi estimado em 1.120 USD ha/ano em média, enquanto o seu uso para funções reguladoras, de habitat e de viveiro e regulação climática foram estimadas em 20,000 USD ha/ano, 600 USD ha/ano, e 6.000 USD ha/ano, respectivamente.
Considerando a área total do mangal do Delta (37.034 ha), o uso directo do mangal é avaliado em 41.478.080 USD por ano e o uso indirecto do mangal avaliado em 985.104.400 USD por ano para todo o Delta do Zambeze, o que totaliza USD 1.026.582.480 por ano. Para este levantamento, o WWF e a UEM entrevistaram um total de 573 famílias, distribuídas em 12 aldeias no distrito de Chinde e arredores, na Província da Zambézia. Os mangais do Delta fornecem madeira, estacas e lenha, a partir do qual o carvão é produzido. O valor económico do mangal para exploração florestal sustentável foi estimado em 1.200 USD ha/ano, se explorado para carvão, no período cíclico de 10 anos.
“Considerando a população do delta, estimada em 188.206, a produção de carvão a partir do mangal renderia cerca de 236 USD ha/ano, equivalente ao PIB per capita médio em Moçambique. Se for explorado de forma sustentável como estacas, o período do ciclo seria de 5 anos e renderia 1.040 USD ha/ano, equivalente a 204,64 USD per capita por ano, um pouco menos do que se fosse explorado como carvão vegetal. Acredita-se que, se o mangal for explorado como madeira, renderia mais, no entanto o ciclo de colheita seria de 20 a 30 anos”, constata o estudo.
O estudo foi efectuado com o apoio do Projecto “Blue Forests” do Fundo Mundial para o Ambiente (GEF). Intitulado “Aplicação de metodologias e abordagens das Florestas Azuis através de intervenções de pequena escala em Moçambique", o projecto faz parte de um esforço internacional coordenado, focado na aplicação de metodologias e abordagens de florestas azuis para avaliar o carbono e outros serviços ecossistémicos. A intervenção visa melhorar a compreensão dos serviços ecossistémicos e o sequestro de carbono pelos ecossistemas de mangal em Moçambique e desenvolver uma gestão melhorada do ecossistema, com base nesse entendimento.
O projecto resultará numa melhor gestão global do ecossistema do Delta do Zambeze, através da avaliação dos seus serviços ecossistémicos, promovendo o uso sustentável dos recursos do mangal para atender às necessidades das comunidades locais através de actividades como a apicultura, a engorda de caranguejo, o estabelecimento de mecanismos de colheita de mangal e o ecoturismo comunitário.
A área total estimada do mangal do delta, que conta com oito espécies, é de aproximadamente 37.034 ha, com uma taxa de aumento de 196 ha por ano. Entretanto, existem ameaças aos mangais e seus recursos associados, as quais podem ser naturais ou antropogénicas. Segundo o estudo, as ameaças naturais estão associadas a mudanças climáticas, ciclones e tempestades e as antropogénicas incluem o corte de árvores para lenha e material de construção e escoamento artificial do rio.
“Há evidências de que as inundações dos rios e a acção das ondas, devido às tempestades, causam o enchimento das raízes do mangal com sedimentos e bloqueio dos riachos dos mangais, e, consequentemente, causam a sua morte. O escoamento artificial dos rios controlado pelas barragens alteram o ciclo sazonal natural, causando uma quantidade reduzida ou elevada de água que atinge os mangais, alterando o grau de salinidade da água que posteriormente causa também a sua morte”, refere o documento.
O estudo constata também que, embora não se encontrem em estado de sobre-exploração, os mangais do Delta do Zambeze estão em risco, considerando a actual tendência de crescimento populacional.
“Existe potencial para uma tendência negativa caso não se implemente uma exploração sustentável do mangal. Além disso, o estudo mostrou que os mangais rendem mais se os recursos associados forem explorados de forma sustentável do que explorados para lenha, carvão vegetal e material de construção”.
A avaliação recomenda, por isso, a implementação de um plano de gestão sustentável do mangal, incluindo um plano de corte e colheita de recursos madeireiros provenientes do mangal que deve consistir no corte de árvores comercialmente viáveis (7,5 m de altura, 2,5 m de perímetro) para produção de carvão vegetal, numa taxa de abate de 13 árvores por hectare por mês, produzindo 20 sacos de carvão por hectare por mês. Uma das principais causas da destruição da floresta de mangal é a procura por material de construção. De forma a reduzir a pressão sobre o mangal para materiais de construção, o estudo recomenda a promoção de uso de materiais de construção alternativos, que incluem tijolo queimado, pois o Delta do Zambeze é rico em argila. Além disso, o estudo mostrou os efeitos negativos a jusante das hidroelétricas, recomendando a regulação do fluxo do rio de forma a imitar o ciclo sazonal natural através da barragem. O estudo recomenda a promoção de meios de subsistência alternativos aos mangais, como a agricultura, reabilitação do sistema de irrigação de Sombo; processamento e comércio de peixe; aquacultura em gaiola; engorda e comércio de caranguejo e apicultura.
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