A ilha do Ibo tem candura humana, que se expressa no rosto das suas gentes. Ibo edifica-se no olhar das pessoas, mesmo quando esses rostos denunciam um quotidiano adverso. Para entender melhor este pedaço de terra, tem que perscrutar a retina dos seus habitantes. É no seu olhar que se encontra a descrição pormenorizada do que Ibo foi, é e será. A ilha é requisitada- por nacionais ou estrangeiros- numa permanente demanda, em busca da felicidade. Primeira capital da província de Cabo Delgado, o nome Ibo pronuncia-se com gáudio, com regozijo, com júbilo…

À Pemba, capital da província nortenha de Cabo Delgado, chegámos por ai 10 e meia da manhã de sábado. Este não era o destino. Ainda havia que atravessar longas e pequenas estradas, alcançar pontes, abraçar rios e contemplar mares para chegar à Ilha do Ibo. Existem alguns escritos sobre o lugar, cujos foram uma espécie de viático para a jornada. Era a primeira vez.
À nossa espera, na porta principal do aeroporto para os que desembarcam em Pemba, estava o solícito motorista Omar, um kiwnane, que ri por tudo e por nada. A intenção primária era dormir em Pemba no sábado, para na madrugada de domingo (três e meia) sairmos em direcção a Ibo. Afigurou-se pouco procedente, pelo que a viagem teve que se realizar no mesmo sábado.
Deixámos o bulício de Pemba e o seu cheiro à maresia por volta das 15 horas. A ideia era dormir em Quissanga, para logo pela manhã fazermos a travessia para Ibo. A saída de Pemba, a estrada é boa até pelo menos se cumprir cerca de 100 km. O resto são solavancos, tal como, de resto, o País real. Por isso dormimos em Macomia, quando já estavam cumpridos quase 200 km.
As luzes de Macomia anunciam a chegada da noite. O fenecer do dia é feito de alegrias múltiplas: há pessoas dançando nas pacatas barracas da vila. São danças estranhas, mas alegres. Há um pequeno mercado informal. Vende-se um pouco de tudo. Desde laranjas colhidas antes do amadurecimento até a um certo tipo de peixe cozido, que miúdos ambulantes levam-no à ilharga, em bacias, anunciando: “Petisco!”
“Subin” é a pensão mais vistosa em Macomia. É aqui onde decidimos por pernoitar. Antes, fomos jantar à frango cafreal com arroz branco, xima, ou matranca (uma massa feita à base de farinha de mandioca). Ao regressarmos à pensão, a vila ainda continuava movimentada. Havia camionistas estacionados, mulheres que procuravam um namoro ocasional. Em Macomia, de resto, não se dorme!
Às quatro horas da manhã, deixámos Macomia para trás. A direcção era Quissanga. A estrada é de terra batida. Há marcas indeléveis das últimas chuvas. Há que conduzir com prudência para esquivar um buraco e evitar um cabrito. São muitos, largados à sua sorte. Alguns até são obstinados: ninguém lhes tira da estrada. De maneira que passamos pelos postos administrativos de Bilibiza, Tororo e Ntapuate quando o sol já despontava.
Não passámos pela vila de Quissanga. Fomos pela parte leste onde se encontra a travessia, e o barco que levar-nos-ia à Ibo já estava ancorado. A maré estava baixa. No meio de sustos e alegrias por contemplar a imensidão das águas de um azul que só aqui existe, chegámos, finalmente, a Ibo. Ainda era manhã.
Na Ilha do Ibo o tempo até parece que parou. É intrigante, romântica, idílica e linda, remota e afastada dos circuitos comerciais. Ibo faz jus ao paradoxo do viajante: surpreende em tudo, até pelas suas ruínas que outrora testemunharam os horrores do comércio de escravos.
Ibo resgatou, ao longo dos anos, a possibilidade de ser o repositório indispensável de uma parte da rica história de Moçambique. A ilha sobreviveu a séculos de profundíssimas transformações. As suas ruínas espelham as épocas e as vivências nela permitidas.
As suas ruínas são de uma coreografia que nos revela a secular história de piratas, comércio de marfim, especiarias vindas da Ásia. Há três fortificações, uma bonita igreja católica muito antiga e numerosos edifícios antigos e entrepostos comerciais fazem guarda sobre as águas.
Uma história fascinante com laivos de segredos e de uma cultura muito rica está presente nos habitantes e nas ruínas, algumas que datam de 1500. As gentes desta ilha de corais são fabulosas, afáveis e muito hospitaleiras.
A ilha tem 10 km de comprimento por cinco de largura e está quase totalmente urbanizada, localizando-se aí a vila do Ibo, sede do distrito do mesmo nome. Encontra-se dentro do Parque Nacional das Quirimbas
Relatos históricos revelam que durante 500 anos a Ilha do Ibo foi um porto de comércio próspero ocupando uma posição estratégica na costa Oriental africana. Hoje, as suas gentes vivem basicamente da pesca artesanal. O turismo ainda é precoce e é dominado por operadores estrangeiros.
O Fortim de São José do Ibo foi a primeira fortificação e é datada de 1760, localiza-se na enseada da ilha. Ele apresenta uma planta aproximadamente rectangular, contendo, no seu interior as edificações para quartel de tropa e armazém. Os cunhais voltados ao mar são encimados por vigias e estava artilhado com sete peças de ferro, de pequeno calibre. Foi restaurado em 1945 pela Comissão dos Monumentos e Relíquias Históricas de Moçambique, demolindo-se as construções que tinham sido levantadas em 1899-1900 e que a descaracterizavam.
A Fortaleza de São João Batista do Ibo está junta do mar, com uma planta no formato poligonal estrelado. A sua construção data de 1781, conforme rezam duas inscrições epigráficas, uma sobre o Portão de Armas e outra no cunhal da entrada, com traça de António José Teixeira Tigre. Houve obras de restauro em 1963. Pelo seu porte, traçado e técnica construtiva, é considerada a segunda fortificação de Moçambique.
Há relatos de que o Fortim de Santo António era a última peça defensiva do porto do Ibo. Sobre o seu Portão de Armas uma inscrição epigráfica assinala a sua conclusão em 1847. Assenta sobre a rocha de coral, com planta quadrangular, com as dimensões de 16,75 metros de frente e 17,35 metros de fundo.
Foi pela primeira vez em Ibo, ilha de um fascínio relutante. A despeito de tudo o que menos gostamos nela e que é produto da nossa incúria, da nossa incapacidade de cuidar dela. Da nossa displicência individual e colectiva. Ibo é, inequivocamente, bela. A sua paisagem exuberante, o seu esplendor quotidiano. A indisputável afabilidade das suas gentes, oriundas por vezes de outras geografias, mas habitantes assertivas do Ibo.
A Ilha do Ibo é, definitivamente, lombadas de livros por abrir. Surpreende em tudo. É histórica e vale apenas conhecê-la. O acesso para a ilha é feito por mar ou avião. O meio mais utilizado de transporte para os habitantes da ilha ainda é a canoa tradicional com velas.
Sobre a Ilha do Ibo, muitos que nos antecederam no ofício escreveram, cantaram-na, alguns glorificaram-na. A ilha concita muitos elogios, mas, também, tem muitos desafios. Uma delas: reclama reabilitação e isso é urgente.
Relacção com o Fundo Mundial para a Natureza
A relação entre o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e a Ilha do Ibo, quiçá de todo o Parque Nacional das Quirimbas (PNQ), é de uma cumplicidade inédita. Há um sentimento de pertença, de maneira que todo o trabalho por si desenvolvido neste lugar merece alguma ênfase. Por exemplo, na Ilha do Ibo existe um santuário de peixes que hoje é orgulho para os locais.

Quando o WWF pensou em criar este santuário era, em princípio, para promover o uso sustentável dos recursos marinhos e fortificar a ligação entre os locais e os seus recursos. Não é por acaso que hoje, convictos, sabem dizer, tal como disse Insa Amisse que “dificilmente deixamos alguém aqui pescar. Isto não é só para nós. Temos que preservar para o bem dos nossos filhos e para as gerações vindouras”.
E é verdade. Técnicos do WWF, tal como a Lara Muaves, bióloga e oficial sénior marinha, já incutiram à comunidade local o sentido de pertença. Por isso que hoje, o WWF, ao transferir as responsabilidades para os locais, fá-lo sem hesitação.
“Existem pessoas locais treinadas pelo WWF para a monitoria do santuário. Se continuamos aqui, dentre várias, é para defender aquilo que é a parte científica, mas eles já têm o domínio do que é necessário fazer. Por exemplo, de tempos em tempos, fazemos a monitoria dos peixes. É uma forma de aprofundar qual das espécies se multiplicou mais. Qual é que está em extinção. É para averiguarmos o seu crescimento, pesagem entre outros. Tudo isto, os locais, os treinados pelo WWF, sabem fazer”, disse Lara Muaves.
Efectivamente, presenciámos algumas demonstrações e certificámos que, sim, eles já estão preparados. Um outro exemplo, não menos importante, é que devido aos ensinamentos do WWF, pescadores da região, encontrando peixes fora do santuário (espécies que emigram), sabem informar aos técnicos, mediante a apresentação do “ship” neles incrustado.
“Dos pescadores, já recebemos cerca de 300 'ships'. Mesmo quando algum oficial do WWF não se encontra na ilha, sabem guardá-los para fornecerem no dia que chegar. Isto advém de um trabalho árduo para uma comunidade que antes pescava de tudo indiscriminadamente e às vezes sofria invasão de pescadores vindos de outras paragens. É verdade que ainda há muito por fazer, mas o essencial está feito. Todos sabem valorizar os recursos que têm e fiscalizam para que o seu uso seja sustentável foi, mais uma vez, a bióloga Lara Muaves.

Os pescadores do Ibo estão agrupados em associações, porque só desta forma saberão valorizar e privilegiar o sentido de pertença.
Um outro exemplo do trabalho meritório do WWF é a floresta do mangal do Ibo. É de perder de vista, um verde sem fim que serpenteia as águas. Esta floresta, assim como a Baía de Montepuez e o recife de coral de franja, foram identificados pelo WWF como locais chave para conservação da biodiversidade marinha; são de características únicas.
Devido ao empenho do WWF, hoje as grandes diversidades de espécies de peixes, de mangal, de ervas marinhas, de moluscos e de macro-algas; as zonas entre-marés, em particular, foram identificadas como sendo de enorme diversidade e estão conservadas.
Hoje, ao longo do Parque Nacional das Quirimbas, até existem associações para a engorda do caranguejo. E as atracções no Ibo não se ficam por aqui. Existe um santuário marinho para golfinhos, uma iniciativa que está integrado no plano de desenvolvimento do Parque Nacional das Quirimbas.
A conservação dos golfinhos no santuário marinho em Mujica, na Ilha do Ibo, resulta de um esforço conjunto entre as comunidades, pescadores e operadores turísticos daquela região insular da província de Cabo Delgado, apoiados pelas autoridades de conservação da biodiversidade.

António Serra, representante do WWF, disse que “a razão da implementação do projecto de conservação daquela espécie marinha resulta do facto de a área ser um habitat natural dos golfinhos. Por essa razão a comunidade, pescadores e operadores decidiram fazer uma veda para proteger os golfinhos, também para fins turísticos”.
Por estes dias, segundo referenciou o administrador do PNQ, pouco se pode falar sobre a parte terrestre do parque. Razões são várias, dentre elas a inevitável caça furtiva. Quase já dizimou o elefante:
“É nos difícil dizer com precisão quantos elefantes restam no parque. O último censo que se fez foi de há muitos anos. Nos últimos três anos assistimos, evidentemente, à matança do elefante pelos furtivos. Hoje, quase que dificilmente se vê o elefante no parque. Só as crias é que se fazem passear”, disse Baldeu Chande, administrador do PNQ.
Apesar das adversidades, Chande garante que ao longo do parque se podem encontrar leões, leopardos, búfalos, mabecos, palapalas, elandes, aves de rapina (águias e flamingos), peixes do mangal, tartarugas marinhas dugongos, etc.
São aquelas atracções que têm alimentado o turismo. Havendo que destacar o turismo de aventura- e este é assegurado por dois lodges-, safaris, sendo que o recife de coral proporciona condições paras o mergulho e smorkelling.
O Parque Nacional das Quirimbas é uma área de conservação de Moçambique. ele abrange o arquipélago das Quirimbas, na província de Cabo Delgado, no norte do país, e ainda uma extensa área terrestre; no total, são 7500 km² de áreas protegidas. Foi instituído em 2002, com o apoio da WWF

À Pemba, capital da província nortenha de Cabo Delgado, chegámos por ai 10 e meia da manhã de sábado. Este não era o destino. Ainda havia que atravessar longas e pequenas estradas, alcançar pontes, abraçar rios e contemplar mares para chegar à Ilha do Ibo. Existem alguns escritos sobre o lugar, cujos foram uma espécie de viático para a jornada. Era a primeira vez.
À nossa espera, na porta principal do aeroporto para os que desembarcam em Pemba, estava o solícito motorista Omar, um kiwnane, que ri por tudo e por nada. A intenção primária era dormir em Pemba no sábado, para na madrugada de domingo (três e meia) sairmos em direcção a Ibo. Afigurou-se pouco procedente, pelo que a viagem teve que se realizar no mesmo sábado.
Deixámos o bulício de Pemba e o seu cheiro à maresia por volta das 15 horas. A ideia era dormir em Quissanga, para logo pela manhã fazermos a travessia para Ibo. A saída de Pemba, a estrada é boa até pelo menos se cumprir cerca de 100 km. O resto são solavancos, tal como, de resto, o País real. Por isso dormimos em Macomia, quando já estavam cumpridos quase 200 km.
As luzes de Macomia anunciam a chegada da noite. O fenecer do dia é feito de alegrias múltiplas: há pessoas dançando nas pacatas barracas da vila. São danças estranhas, mas alegres. Há um pequeno mercado informal. Vende-se um pouco de tudo. Desde laranjas colhidas antes do amadurecimento até a um certo tipo de peixe cozido, que miúdos ambulantes levam-no à ilharga, em bacias, anunciando: “Petisco!”
“Subin” é a pensão mais vistosa em Macomia. É aqui onde decidimos por pernoitar. Antes, fomos jantar à frango cafreal com arroz branco, xima, ou matranca (uma massa feita à base de farinha de mandioca). Ao regressarmos à pensão, a vila ainda continuava movimentada. Havia camionistas estacionados, mulheres que procuravam um namoro ocasional. Em Macomia, de resto, não se dorme!
Às quatro horas da manhã, deixámos Macomia para trás. A direcção era Quissanga. A estrada é de terra batida. Há marcas indeléveis das últimas chuvas. Há que conduzir com prudência para esquivar um buraco e evitar um cabrito. São muitos, largados à sua sorte. Alguns até são obstinados: ninguém lhes tira da estrada. De maneira que passamos pelos postos administrativos de Bilibiza, Tororo e Ntapuate quando o sol já despontava.
Não passámos pela vila de Quissanga. Fomos pela parte leste onde se encontra a travessia, e o barco que levar-nos-ia à Ibo já estava ancorado. A maré estava baixa. No meio de sustos e alegrias por contemplar a imensidão das águas de um azul que só aqui existe, chegámos, finalmente, a Ibo. Ainda era manhã.
Na Ilha do Ibo o tempo até parece que parou. É intrigante, romântica, idílica e linda, remota e afastada dos circuitos comerciais. Ibo faz jus ao paradoxo do viajante: surpreende em tudo, até pelas suas ruínas que outrora testemunharam os horrores do comércio de escravos.
Ibo resgatou, ao longo dos anos, a possibilidade de ser o repositório indispensável de uma parte da rica história de Moçambique. A ilha sobreviveu a séculos de profundíssimas transformações. As suas ruínas espelham as épocas e as vivências nela permitidas.
As suas ruínas são de uma coreografia que nos revela a secular história de piratas, comércio de marfim, especiarias vindas da Ásia. Há três fortificações, uma bonita igreja católica muito antiga e numerosos edifícios antigos e entrepostos comerciais fazem guarda sobre as águas.
Uma história fascinante com laivos de segredos e de uma cultura muito rica está presente nos habitantes e nas ruínas, algumas que datam de 1500. As gentes desta ilha de corais são fabulosas, afáveis e muito hospitaleiras.
A ilha tem 10 km de comprimento por cinco de largura e está quase totalmente urbanizada, localizando-se aí a vila do Ibo, sede do distrito do mesmo nome. Encontra-se dentro do Parque Nacional das Quirimbas
Relatos históricos revelam que durante 500 anos a Ilha do Ibo foi um porto de comércio próspero ocupando uma posição estratégica na costa Oriental africana. Hoje, as suas gentes vivem basicamente da pesca artesanal. O turismo ainda é precoce e é dominado por operadores estrangeiros.
O Fortim de São José do Ibo foi a primeira fortificação e é datada de 1760, localiza-se na enseada da ilha. Ele apresenta uma planta aproximadamente rectangular, contendo, no seu interior as edificações para quartel de tropa e armazém. Os cunhais voltados ao mar são encimados por vigias e estava artilhado com sete peças de ferro, de pequeno calibre. Foi restaurado em 1945 pela Comissão dos Monumentos e Relíquias Históricas de Moçambique, demolindo-se as construções que tinham sido levantadas em 1899-1900 e que a descaracterizavam.
A Fortaleza de São João Batista do Ibo está junta do mar, com uma planta no formato poligonal estrelado. A sua construção data de 1781, conforme rezam duas inscrições epigráficas, uma sobre o Portão de Armas e outra no cunhal da entrada, com traça de António José Teixeira Tigre. Houve obras de restauro em 1963. Pelo seu porte, traçado e técnica construtiva, é considerada a segunda fortificação de Moçambique.
Há relatos de que o Fortim de Santo António era a última peça defensiva do porto do Ibo. Sobre o seu Portão de Armas uma inscrição epigráfica assinala a sua conclusão em 1847. Assenta sobre a rocha de coral, com planta quadrangular, com as dimensões de 16,75 metros de frente e 17,35 metros de fundo.
Foi pela primeira vez em Ibo, ilha de um fascínio relutante. A despeito de tudo o que menos gostamos nela e que é produto da nossa incúria, da nossa incapacidade de cuidar dela. Da nossa displicência individual e colectiva. Ibo é, inequivocamente, bela. A sua paisagem exuberante, o seu esplendor quotidiano. A indisputável afabilidade das suas gentes, oriundas por vezes de outras geografias, mas habitantes assertivas do Ibo.
A Ilha do Ibo é, definitivamente, lombadas de livros por abrir. Surpreende em tudo. É histórica e vale apenas conhecê-la. O acesso para a ilha é feito por mar ou avião. O meio mais utilizado de transporte para os habitantes da ilha ainda é a canoa tradicional com velas.
Sobre a Ilha do Ibo, muitos que nos antecederam no ofício escreveram, cantaram-na, alguns glorificaram-na. A ilha concita muitos elogios, mas, também, tem muitos desafios. Uma delas: reclama reabilitação e isso é urgente.
Relacção com o Fundo Mundial para a Natureza
A relação entre o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e a Ilha do Ibo, quiçá de todo o Parque Nacional das Quirimbas (PNQ), é de uma cumplicidade inédita. Há um sentimento de pertença, de maneira que todo o trabalho por si desenvolvido neste lugar merece alguma ênfase. Por exemplo, na Ilha do Ibo existe um santuário de peixes que hoje é orgulho para os locais.

Quando o WWF pensou em criar este santuário era, em princípio, para promover o uso sustentável dos recursos marinhos e fortificar a ligação entre os locais e os seus recursos. Não é por acaso que hoje, convictos, sabem dizer, tal como disse Insa Amisse que “dificilmente deixamos alguém aqui pescar. Isto não é só para nós. Temos que preservar para o bem dos nossos filhos e para as gerações vindouras”.
E é verdade. Técnicos do WWF, tal como a Lara Muaves, bióloga e oficial sénior marinha, já incutiram à comunidade local o sentido de pertença. Por isso que hoje, o WWF, ao transferir as responsabilidades para os locais, fá-lo sem hesitação.
“Existem pessoas locais treinadas pelo WWF para a monitoria do santuário. Se continuamos aqui, dentre várias, é para defender aquilo que é a parte científica, mas eles já têm o domínio do que é necessário fazer. Por exemplo, de tempos em tempos, fazemos a monitoria dos peixes. É uma forma de aprofundar qual das espécies se multiplicou mais. Qual é que está em extinção. É para averiguarmos o seu crescimento, pesagem entre outros. Tudo isto, os locais, os treinados pelo WWF, sabem fazer”, disse Lara Muaves.
Efectivamente, presenciámos algumas demonstrações e certificámos que, sim, eles já estão preparados. Um outro exemplo, não menos importante, é que devido aos ensinamentos do WWF, pescadores da região, encontrando peixes fora do santuário (espécies que emigram), sabem informar aos técnicos, mediante a apresentação do “ship” neles incrustado.
“Dos pescadores, já recebemos cerca de 300 'ships'. Mesmo quando algum oficial do WWF não se encontra na ilha, sabem guardá-los para fornecerem no dia que chegar. Isto advém de um trabalho árduo para uma comunidade que antes pescava de tudo indiscriminadamente e às vezes sofria invasão de pescadores vindos de outras paragens. É verdade que ainda há muito por fazer, mas o essencial está feito. Todos sabem valorizar os recursos que têm e fiscalizam para que o seu uso seja sustentável foi, mais uma vez, a bióloga Lara Muaves.

Os pescadores do Ibo estão agrupados em associações, porque só desta forma saberão valorizar e privilegiar o sentido de pertença.
Um outro exemplo do trabalho meritório do WWF é a floresta do mangal do Ibo. É de perder de vista, um verde sem fim que serpenteia as águas. Esta floresta, assim como a Baía de Montepuez e o recife de coral de franja, foram identificados pelo WWF como locais chave para conservação da biodiversidade marinha; são de características únicas.
Devido ao empenho do WWF, hoje as grandes diversidades de espécies de peixes, de mangal, de ervas marinhas, de moluscos e de macro-algas; as zonas entre-marés, em particular, foram identificadas como sendo de enorme diversidade e estão conservadas.
Hoje, ao longo do Parque Nacional das Quirimbas, até existem associações para a engorda do caranguejo. E as atracções no Ibo não se ficam por aqui. Existe um santuário marinho para golfinhos, uma iniciativa que está integrado no plano de desenvolvimento do Parque Nacional das Quirimbas.
A conservação dos golfinhos no santuário marinho em Mujica, na Ilha do Ibo, resulta de um esforço conjunto entre as comunidades, pescadores e operadores turísticos daquela região insular da província de Cabo Delgado, apoiados pelas autoridades de conservação da biodiversidade.

António Serra, representante do WWF, disse que “a razão da implementação do projecto de conservação daquela espécie marinha resulta do facto de a área ser um habitat natural dos golfinhos. Por essa razão a comunidade, pescadores e operadores decidiram fazer uma veda para proteger os golfinhos, também para fins turísticos”.
Por estes dias, segundo referenciou o administrador do PNQ, pouco se pode falar sobre a parte terrestre do parque. Razões são várias, dentre elas a inevitável caça furtiva. Quase já dizimou o elefante:
“É nos difícil dizer com precisão quantos elefantes restam no parque. O último censo que se fez foi de há muitos anos. Nos últimos três anos assistimos, evidentemente, à matança do elefante pelos furtivos. Hoje, quase que dificilmente se vê o elefante no parque. Só as crias é que se fazem passear”, disse Baldeu Chande, administrador do PNQ.
Apesar das adversidades, Chande garante que ao longo do parque se podem encontrar leões, leopardos, búfalos, mabecos, palapalas, elandes, aves de rapina (águias e flamingos), peixes do mangal, tartarugas marinhas dugongos, etc.
São aquelas atracções que têm alimentado o turismo. Havendo que destacar o turismo de aventura- e este é assegurado por dois lodges-, safaris, sendo que o recife de coral proporciona condições paras o mergulho e smorkelling.
O Parque Nacional das Quirimbas é uma área de conservação de Moçambique. ele abrange o arquipélago das Quirimbas, na província de Cabo Delgado, no norte do país, e ainda uma extensa área terrestre; no total, são 7500 km² de áreas protegidas. Foi instituído em 2002, com o apoio da WWF
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